quarta-feira, 23 de abril de 2014

Colóquio de Hermenêutica II: A mulher pode Exercer o Ministério Pastoral?




          I. Paulo defende que a mulher não pode exercer ministério no Corpo de Cristo, segundo 1 Coríntios 14.34-35 e 1 Timóteo 2.11-15?

Análise Histórico-Cultural:
1 Coríntios: Em qualquer discussão sobre os regulamentos atinentes às mulheres, convêm que nos lembremos que as mulheres eram tidas em bem baixa conta, na estimativa dos judeus. Muitos rabinos duvidavam que as mulheres tivessem alma. Se um escravo do sexo masculino podia ler as escrituras na sinagoga, uma mulher judia não tinha permissão para tanto. Nenhuma mulher podia freqüentar uma escola de teologia. Essa era uma ordenança judaica; as mulheres não era permitido ensinar nas assembléias, e nem mesmo fazerem indagações. Os rabinos ensinavam que ‘uma mulher não deve saber outra coisa senão como usar os seus utensílios caseiros’. E as declarações do rabino Eliezer, conforme transmitidas por Bammidbar Rabba, foi que são ambas dignas de observação e de execração. Essas declarações são as seguintes: “Antes sejam queimadas as palavras da lei, do que serem elas ensinadas a uma mulher”.
1 Timóteo: É consenso entre os estudiosos que Paulo a escreveu para instruir Timóteo a combater uma perigosa heresia que havia se infiltrado na igreja de Éfeso, que estava sob a sua responsabilidade.
Paulo não dá muitos detalhes na carta sobre a natureza dessa heresia, provavelmente porque Timóteo estava perfeitamente a par do problema. Mas na própria carta temos várias indicações dos problemas enfrentados por Timóteo. Os falsos mestres em Éfeso estavam semeando dissensões e se ocupando com trivialidades, ensinavam que a prática ascética era um meio para se alcançar uma espiritualidade mais elevada. Estavam ensinando a abstinência de certas comidas, do casamento, e do sexo em geral. Possivelmente estavam ensinando que o treinamento físico também servia para se alcançar esta espiritualidade; Várias mulheres da igreja estavam seguindo os falsos mestres e seus ensinos; Aparentemente, os falsos mestres estavam encorajando tais mulheres a trocarem o seu papel costumeiro no lar por uma atitude mais igualitária com respeito a seus maridos, e aos homens em geral.
O programa dos falsos mestres incluía denegrir o casamento, e isso certamente induziria ao abandono das funções tradicionais da mulher no lar. Algumas evidências sugerem esta interpretação. Em suas instruções às viúvas, Paulo determina que as mais novas se casem, tenham filhos e cuidem das suas casas; visto que já "algumas se desviaram, seguindo a Satanás", Desde que Paulo considera o ensino dos falsos mestres como sendo "ensino de demônios". Embora não saibamos os motivos com exatidão, transparece claramente que o ensino dos falsos mestres em Éfeso incluía a rejeição dos papéis tradicionais das mulheres no casamento, e um encorajamento a que elas reivindicassem papéis iguais na igreja e nos lares.
A situação parece bastante similar à da igreja de Corinto, onde as mulheres procuravam exercer no culto funções até então privativas dos homens cristãos. É contra este pano de fundo que Paulo determina às mulheres da igreja de Éfeso que aprendam em silêncio, que não ensinem nem exerçam autoridade sobre os homens, e que estejam em perfeita submissão.

Análise Gramatical:
“α γυνακες ν τας κκλησαις σιγτωσαν, ο γρ πιτρπεται ατας λαλεν· λλ ποτασσσθωσαν, καθς κα νµος λγει. 35 ε δ τι µαθεν θλουσιν, ν οκ τος δους νδρας περωττωσαν, ασχρν γρ στιν γυναικ λαλεν ν κκλησίᾳ”. (1 Corintios 14.35 – 36).
Falar- No original grego encontramos o verbo “lalein”, que se refere a qualquer modalidade de elocução verbal, incluindo a pregação e ate mesmo a conversação publica ou particular.
Vergonhoso - Trata-se da mesma palavra forte que Paulo usara, ao aludir ao costume das mulheres de raparem seus cabelos (ver I Cor. 11:6). E como se o apostolo houvesse escrito: É realmente escandaloso uma mulher falar publicamente, perante a congregação, ou perante qualquer porção da mesma, como uma função da igreja. 

“γυν ν συχίᾳ µανθαντω ν πσ ποταγ· 12 διδσκειν δ γυναικ οκ πιτρπω, οδ αθεντεν νδρς, λλ. εναι ν συχίᾳ. 13 δµ γρ πρτος πλσθη, ετα Εα· 14 κα δµ οκ πατθη, δ γυν ξαπατηθεσα ν παραβσει γγονεν. 15 σωθσεται δ δι τς τεκνογονας, ἐὰν µενωσιν ν πστει κα γπ κα γιασµ µετ σωφροσνης”. (1Timoteo 2. 11 – 15).

...silencio..., isto é, não orando, lendo as Escrituras ou ensinando em voz alta, na igreja.
...toda a submissão... No grego é “upotage, que significa sujeição, subordinação, obediência”. E isso tanto para com os maridos como para com os homens que são líderes da igreja, para que as mulheres não saíssem da linha apropriada para as mulheres, conforme ensinar, ler ou orar em público era considerado.
...exerça autoridade... No grego e authenteo, que significa ter autoridade sobre, dominar”, palavra encontrada exclusivamente aqui, em todo ο N.T. o que significa que se trata de uma das cento e setenta e cinco palavras peculiares a estas epistolas pastorais. Talvez esse vocábulo possa significar interpretar, mas essa maneira de compreender está fora de lugar. As evidencias léxicas favorecem a ideia de autoridade. O termo authentes, no grego, significa dominador absoluto, embora também fosse empregado para indicar assassino ou suicida. Todavia, a maioria dos estudiosos concorda que aqui esta em pauta a ideia de autoridade. Por conseguinte, as mulheres crentes não é lícito orar ou ler em voz alta, ensinar na igreja ou ocupar qualquer posição de autoridade, que a ponha sobre os hortiens, usurpando o lugar que cabe a eles.

Análise teológica:
Transparece do texto que ele não permite que a mulher, em posição de autoridade, ensine os homens. Nas Cartas Pastorais, ensinar sempre tem o sentido restrito de instrução doutrinária autoritativa, feita com o peso da autoridade oficial dos pastores e presbíteros (1 Tm 4.11; 6.2; 5.17). Ao que tudo indica, algumas mulheres da igreja de Éfeso, insufladas pelo ensino dos falsos mestres, estavam querendo essa posição oficial para ensinar nas assembléias cristãs. Paulo, porém, corrige a situação determinando que elas não assumam posição de liderança autorizada nas igrejas, para ensinarem doutrina cristã nos cultos, onde certamente homens estariam presentes. Paulo não está proibindo todo e qualquer tipo de ensino feito por mulheres nas igrejas. Profetizas na igreja apostólica certamente tinham algo a dizer aos homens durante os cultos. Para o apóstolo, a questão é o exercício de autoridade sobre homens, e não o ensino. O ministério didático feminino, exercido com o múnus da autoridade que ofícios de pastor e presbítero emprestam, seria uma violação dos princípios que Paulo percebe na criação e na queda.
O ensinar que Paulo não permite é aquele em que a mulher assume uma posição de autoridade eclesiástica sobre o homem. Isso é evidente do fato que Paulo fundamenta seu ensino nas diferenças com que homem e mulher foram criados (v. 13), e pela frase "autoridade sobre o homem" (v. 12b). Um equivalente moderno seria a ordenação como ministro da Palavra, para pregar a Palavra de Deus numa igreja local.
De qualquer forma, fica evidente que a atitude que o apóstolo exigia das mulheres cristãs de Éfeso, envenenadas pelo ensino dos falsos mestres, era de submissão e silêncio, quanto ao aprendizado da doutrina cristã nas assembléias. A proibição de exercer autoridade sobre os homens exclui as mulheres do ofício de presbítero, que é essencialmente o de governar e presidir a casa de Deus (1 Tm 3.4-5; 5.17), embora não as exclua de exercer outras atividades nas igrejas.
Quase que todos os livros do Novo Testamento foram escritos em resposta a uma situação específica de uma ou mais comunidades cristãs do século I, e nem por isto intérpretes igualitaristas defendem que nada do Novo Testamento se aplica às igrejas cristãs de hoje. A carta aos Gálatas, por exemplo, onde Paulo expõe a doutrina da justificação pela fé somente, foi escrita para combater o legalismo dos judaizantes que procuravam minar as igrejas gentílicas da Galácia, em meados do século I. Ousaríamos dizer que o ensino de Paulo sobre a justificação pela fé não tem mais relevância para as igrejas do final do século XX, por ter sido exposto em reação a uma heresia que afligia igrejas locais no século I? O ponto é que existem princípios e verdades permanentes que foram expressos para atender a questões locais, culturais e passageiras. Passam as circunstâncias históricas, mas o princípio teológico permanece. Assim, o comportamento inadequado das mulheres de Corinto e de Éfeso, e as heresias que o provocaram, cessaram historicamente, mas os princípios aplicados por Paulo para resolver os problemas causados por estas heresias permanecem válidos. Ou seja, o ensino de que as mulheres devem estar submissas à liderança masculina nas igrejas e na família, sem ocupar posições de liderança e governo, é o princípio permanente e válido para todas as épocas e culturas.
É evidente que há elementos no Novo Testamento que pertencem à cultura do século I. Por exemplo, nenhum estudioso sério afirmaria que a orientação de Paulo para que os cristãos se saúdem com "ósculo santo" (1 Co 16.20) é para ser observada literalmente nas igrejas ocidentais contemporâneas. Entretanto, o princípio que está por detrás desta orientação é permanente, ou seja, que os cristãos devem se saudar de forma santa, qualquer que seja a época ou cultura em que vivam. Obviamente, a forma em que essa saudação ocorrerá dependerá dos costumes locais, mas o princípio permanece o mesmo.
É exatamente o que ocorre quanto à determinação de Paulo para que as mulheres de Corinto usem o véu. O princípio por detrás desta ordem, conforme estudamos acima, é o de se apresentarem nos cultos em plena submissão à liderança masculina cristã. O uso do véu é a forma contextualizada pelo qual esse princípio se expressava. Hoje em dia, nas culturas ocidentais, o uso do véu não é uma expressão apropriada deste princípio.
O princípio permanente que está subjacente em 1 Coríntios 11.2-16, 14.34-35 e 1 Tm 2.11-12 é o de que se mantenham as distinções e os papéis intrínsecos ao homem e à mulher na igreja e na família. Assim, a mulher não deve inverter os papéis, e ocupar posição de autoridade sobre os homens, quer seja para governá-los ou ensiná-los.

sábado, 19 de abril de 2014

Colóquio de Hermenêutica I: Salvos pela Fé ou pelas Obras?

E.
          Este colóquio foi elaborado para a aula de Hermenêutica no Seminário Teológico. As três postagens abordam três assuntos específicos: Relação entre Fé e Obras, Ordenação Feminina ao Pastorado e as palavras de Jesus sobre Pedro ser ou não a Pedra. Este primeiro texto aborda o primeiro assunto mencionado. Então vamos aprender um pouco mais sobre a Palavra de Deus nessa primeira postagem.
 
Qual a relação da fé salvífica de Paulo em Efésios 2.8 com a questão das obras em Tiago 2.24?


Análise Histórico-Cultural: O problema que Paulo enfrentava era o da oposição de pessoas que confiavam na sua guarda da lei para salvação (como ele mesmo havia feito durante o seu período farisaico); assim, ele ensinava que a pessoa era justificada pela fé à parte das obras da lei – isto é, obras feitas como meios de comprar a salvação. Desde cedo Paulo enfrentou aqueles judeus que começaram a fazer parte da igreja e queriam que todos os crentes, gentios ou não, guardassem a lei, mais especificamente a circuncisão, caso contrário, não seriam salvos. Isso ocasionou inclusive o primeiro concílio da igreja em Atos 15.

Tiago, porém, estava combatendo pessoas inclinadas a pensar que uma crença meramente intelectual nas verdades do Cristianismo era suficiente para a salvação. É de comum acordo entre a grande maioria dos estudiosos que mesmo sendo uma epístola geral, Tiago estaria dirigindo-se a uma comunidade de judeus, percebemos pela sua saudação e analogias utilizando o A.T.



Análise Gramatical: 

ρτε τι ξ ργων δικαιοται νθρωπος κα οκ κ πστεως µνον”. Tiago. 2.24
“τ γρ χριτ στε σεσσµνοι δι πστεως· κα τοτο οκ ξ µν θεο τ δρον”. Efésios 2.8

Tanto Paulo como Tiago referem-se à palavra nos dois versículos analisados. A palavra obras que Tiago usa é também a mesma que Paulo usa nas suas epístolas. Mas Paulo a usa acompanhada da palavra “Lei”. Deve-se notar, no entanto, que as obras sobre as quais Tiago escreve não são as mesmas que Paulo tinha em mente. Paulo, em sua argumentação, sempre usa a expressão “obras da lei” ou “obras de lei” (ergon nomou), quando diz que somos justificados à parte das obras (Romanos 3.20, 28; Gálatas 2.16). Quando Tiago fala de obras, por outro lado, ele não as chama de “obras da lei”, mas simplesmente “obras” (ergon).



Análise teológica:

Pelo contexto das espístolas paulinas que tratam desse assunto mais profundamente como Romanos e Gálatas, percebemos claramente Paulo combatendo claramente a salvação através das obras da lei.  Resta a questão do que significa, no dizer de Tiago, que alguém é justificado pelas obras (Tiago 2.21,24). Está ele contradizendo Paulo? Não se entendermos corretamente o uso que Tiago faz da palavra “justificar” (dikaioo). Quando Tiago diz que Abraão foi justificados pelas obras ao oferecer Isaque sobre o altar (v.21), não está negando que Abraão foi realmente justificado muito tempo antes que isso ocorresse – quando, segundo Gênesis 15.6, “Ele creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça”. O ponto que Tiago focaliza é que “foi pelas obras que a fé se consumou” (eteleiothe – “chegou aos seu objetivo) (v.22); ou seja, que a obra de oferecer Isaque revelava que a fé pela qual Abraão havia sido justificado era a fé verdadeira. Essa obra mostrava que a fé de Abraão era genuína. Sugiro, então, que o entendimento de dikaioo em Tiago signifique: “ser revelado como justificado”. James Packer coloca assim:

Em Tiago 2.21, 24, 25 sua referência [a dikaioo] é prova de sua aceitação por Deus, que acontece quando suas ações mostram que ela tem o tipo de fé viva e operosa à qual Deus imputa justiça. A justificação que Tiago enfoca não é a aceitação original por Deus, mas a subsequente reivindicação de sua profissão de fé em sua vida. É na terminologia, não na teologia, que Tiago difere de Paulo.

O verso 24 poderia, então, ser traduzido assim: “Você vê que um homem é revelado como justificado pelas obras e não pela fé somente”, isto é, que uma pessoa não será justificada pela fé que permanece só, mas pela fé que revela sua genuinidade por meio de obras de graciosa obediência.

         Assim, a despeito da aparente contradição entre Paulo e Tiago, há aí uma profunda unidade. Paulo concordaria com Tiago que só a fé viva justifica. Paulo e Tiago concordariam com o dito de Calvino:

         “É a fé sozinha que nos justifica, mas no entanto, a fé que justifica não está sozinha”.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Análise das Cartas de 1ª e 2ª João


 Introdução
O objetivo destas epístolas era escrever aos crentes daquelas igrejas para fortalecer-lhes a fé e encorajá-los a perseverarem na busca por mais conhecimento de Deus, tendo como destinatário um grupo específico de cristãos com os quais o autor tinha uma relação próxima. João escreveu para combater heresias, precocemente gnósticas, exortando os irmãos a terem cuidado com os falsos mestres e que os cristãos deveriam ser vigilantes, nem ao menos recebendo esses falsos mestres em suas casas. João ensina seus “filhos na fé” a verdadeira mensagem sobre Deus e Jesus, a fé verdadeira e o amor fraternal, o apóstolo os exorta a manterem-se firmes na verdade e na vivência do amor prático de uns para com os outros.

Autor e Data
Embora o escritor não tenha se identificado, temos o testemunho de alguns dos pais da igreja, como Clemente de Alexandria, Orígenes e Tertuliano que mencionaram João, filho de Zebedeu e apóstolo de Jesus Cristo como autor destas duas epístolas.
2ª e 3ª João foram escritos pelo mesmo autor sem sombra de dúvida. Elas usam a mesma linguagem. Na introdução trazem a mesma sentença: ho presbyteros.
Tal posição acima é contestada de várias maneiras. Hoje em dia não se defende mais a asserção de que estas epístolas de 2ª e 3ª João não é mais imitação dos escritos Joaninos, afirma a alta crítica.
Com isso se levantaram objeções muitos profundas acerca disso, contra a teoria de que 2ª João tenha sido escrita pelo mesmo autor de 3ª João. Dizia-se que 2ª João é uma epístola fictícia do catolicismo primitivo e dependente de 3ª João, e que, diversamente de 1ª João, o conceito de verdade em 2ª João não é dualista, porém indica antes uma doutrina correta em contraposição a falsas doutrinas, e que, conceitualmente, ela não pode harmonizar-se com 1ª João e 3ª João.
Contudo, há evidências internas muito fortes a respeito de que foi o apóstolo João o "discípulo que Jesus amava," filho de Zebedeu e irmão de Tiago escreveu o Evangelho e as epístolas joaninas.
Foram provavelmente escritas em Éfeso. A tradição situa a redação dessas epístolas nos últimos anos da vida de João, datando-as entre 80 a 95 d.C. a data precisa é desconhecida, porém estudiosos acreditam que João escreveu as epístolas após ter escrito o evangelho.
A datação das epístolas joaninas é determinada pela datação do Evangelho de João. Se o Evangelho foi escrito antes, se supõe que as epístolas são bem antigas também. O Evangelho de João foi escrito provavelmente em meados dos ano 70 d.C. (justamente por não existir evidências da destruição de Jerusalém) e mais tarde publicado em Éfeso, quando João residiu por lá. Apesar de existir autores que alegam que as epístolas foram escritas depois da perseguição no ano de 96 d.C. após a morte de Domiciano, quando a perseguição cessa e antes da perseguição de Trajano começar (110-117 d.C.).
Policarpo e possivelmente por Inácio (115) empurram a data para o primeiro século. A falta de reflexo de perseguição nas epístolas provavelmente se encaixaria melhor no período anterior a Domiciano. Portanto, conclui-se que estas epístolas de João foram escritas 70-90 ou derrepente na década 80-90 seria também bem provável.

Propósito
1ª Epístola de João
1)    Combater os erros doutrinários e éticos dos falsos profetas (2ª Pe 2.1-2) (Jd 1.8);
2)    Exortar seus filhos na fé a manter uma vida santa e em comunhão com Deus, com a verdade e justiça e cheios de alegria por servirem a Deus (1.4);
3)    Ter a certeza da vida eterna ( 5.13), mediante a fé e obediência a Jesus (4.15) (5.3) e (5.12);
4)    Pela habitação interior do Espírito Santo ( 5.20) ( 4.4 e 13).
A fé e a conduta estão fortemente entrelaçadas nessa carta, os falsos mestres a quem João chama de anticristo (2.18-20) apartaram-se do ensino apostólico sobre Cristo e da vida de retidão. Em 2 Pedro e Judas1, João refuta e condena com veemência esses falsos mestres com suas crenças e condutas destruidoras.
A carta de 1ª João expõe características da verdadeira comunhão com Deus e revela cinco evidencias especificas que o crente poderá ter certeza da vida eterna:
Ø   Primeira evidencia: A verdade apostólica a respeito  de Cristo;
Ø  Segunda evidencia: uma fé obediente que guarda os mandamentos de Cristo (2.3-11);
Ø  Terceira evidencia: um viver santo afastando-se do pecado para se ter uma comunhão com Deus (1.6-9), (2.3-6, 15,17 e 29);
Ø  Quarta evidencia: o amor de Deus e aos irmãos na fé (2.9-11) (3.10-11,14 e 16)ç
Ø  Quinta evidencia: o testemunho do espírito Santo no crente ( 2.20-27) 4.13).
Estas evidencias fazem com que a pessoa possa saber que tem a vida eterna. Está epistola define a vida Cristã empregando termos contrastantes e evitando todo e qualquer meio termo entre a Luz e as trevas, entre a verdade e a mentira, entre a justiça e o pecado, entre o amor e o ódio entre amar a Deus e amar o mundo.
A mensagem de 1ª João, fundamenta-se  quase que inteiramente no ensino apostólico e não na revelação anterior do Antigo Testamento. A carta focaliza a encarnação de Jesus na cruz sem mencionar sua ressurreição.

2ª Epístola de João
João escreve esta carta a fim de prevenir a “senhora eleita" contra os falsos mestres evangelistas e profetas que andavam pelas igrejas. Estes haviam abandonado os ensinos do evangelho e propagavam seus falsos ensinamentos, a destinatária desta carta não devia recebê-lo e nem dialogar com eles, assim como não auxiliá-los, para não contribuir na disseminação de seus erros doutrinários.
A figura de linguagem “a senhora eleita”  “aos filhos de sua Irmã" nos leva a crer que João estava se referindo a igreja local levando-se  em considerações os seguintes pontos:
Primeiro: João diz que essa senhora é amada não somente por ele, mas por todos os que conhecem a verdade. Observa-se que não se refere especificamente a uma pessoa.
Segundo: Embora a carta inicie o tratamento na 2ª pessoa do singular (teus filhos)v4, (peço-te) v5, e de repente muda para a 2ª pessoa do plural (ouvistes)v6, (perdestes)v8.
Terceiro: Quando João faz um apelo “que nos amemos  uns aos outros” v5, este apelo faz mais sentido quando dirigido a uma comunidade de crentes do que a uma mulher e aos seus filhos.


Plano do Livro (Esboço)
“Primeira João em seu plano, é mais sinfônica do que lógica, pois foi estruturada mais como um trecho musical do que como um esboço de debate”. Sua estrutura é objeto de debates, em grande parte porque João trata de vários temas e fica voltando a eles em contextos ligeiramente diferentes. Em se tratando da segunda epístola, o autor desenvolve os mesmos temas da primeira, só que bem resumido, pois a segunda e a terceira epístolas de João são os documentos mais curtos do Novo Testamento.

Primeira Epístola de João

I.              O prefácio (1.1-4)
João testemunhou a respeito da realidade da encarnação de Jesus Cristo, que ele tinha visto diretamente, na esperança que seus leitores reafirmassem essa verdade essencial do evangelho.
A.   A preexistência eterna do Verbo da Vida (1.1);
B.   A Manifestação Histórica (1.1,2);
C.   A Proclamação e Anuncio da vida eterna (1.2,3);
D.   A Comunhão e Alegria no Verbo (1.3,4).
II.            A mensagem Apostólica e Suas Implicações Morais (1.5 - 2.2)
C.H. Dood acha que o escritor está “aludindo do começo ao fim a certas máximas que eram empregadas como senhas pelos mestres heréticos”. Quer ele esteja citando realmente os lemas deles quer não, por certo está apresentando alguns dos seus ensinamentos perniciosos.
A. A negação de que o pecado rompe a nossa comunhão com Deus (1.6,7);
B. A negação de que existe pecado em nossa natureza (1.8,9);
C. A negação de que o pecado se mostra em nossa conduta (1.10-2.2).
III.           Primeira Aplicação das Provas (2.3-27)
A.   Obediência, ou a prova moral (2.3-6);
B.   Amor, ou a prova social (2.7-11);
C.   Digressão acerca da igreja (2.12-14);
D.   Digressão acerca do mundo (2.15-17);
E.   Fé, ou a prova doutrinária (2.18-27)
IV.          Segunda Aplicação das Provas (2.28-4.6)
A.   Uma elaboração da prova moral: Justiça (2.28-3.10);
B.   Uma elaboração da prova social: amor (3.11-18);
C.   Digressão acerca da segurança e do coração que acusa (3.19-24)
D.   Uma elaboração da prova doutrinaria: fé (4.1-6)
V.           Terceira Aplicação das Provas (4.7-5.5)
A.   Mais uma elaboração da prova social: amor (4.7-12);
B.   Combinação das provas doutrinaria e social (4.13-21);
C.   Combinação das três provas (5.1-5).
VI.          As três Testemunhas e a Nossa Conseqüente Segurança (5.6-17)
A.   As três testemunhas (5.6-12);
B.   A nossa conseqüente segurança (5.13-17).
VII.         Três Afirmações e uma Exortação para Concluir (5.18-21).

Segunda Epístola de João
I.              Saudação e Cumprimento (1-3);
II.            Elogio (4);
João elogiou os cristãos pela fidelidade deles.
III.           Exortação a Amar (5-6);
IV.          Advertência Contra o Falso Ensino (7-11);
Os falsos mestres negavam a encarnação de Cristo.
V.           Observação final e Despedida (12-13).

Características
Podemos observar algumas características marcantes das epístolas e da própria pessoa do autor, no caso da epístola em questão, o apóstolo João.
João não pertencia a nenhuma escola rabínica, At. 4.13; Mas isso não queria dizer que ele era “ignorante” quanto às questões das leis judaicas.
Os artistas o pintaram com a fisionomia muito singela, com feições até muito afeminadas. Porém ele e seu irmão eram conhecidos como Boanerges, que quer dizer: “filhos do trovão”, Mc. 3.17; Talvez por possuírem a tonalidade da voz muito grave. Apesar disto, em algumas circunstancias, usaram de Intolerância e Rispidez, Mc. 9.38 ; Lc. 9.54.
Passou a ultima parte de sua vida na região da Ásia Menor, em particular na cidade de Éfeso. JOÃO é conhecido como “O APÓSTOLO DO AMOR”, apesar de ser intolerante com Heresias.
O estilo literário de que João usa para escrever a sua epístola, é repetitivo, dada a tamanha preocupação do escritor quanto a nova onda que tenta invadir a igreja de Éfeso. O que João escreve em 1. Jo. 1.5–2.29, ele repete segunda vez em 3.1–4.6, e uma terceira vez em 4.7-5.12.
João não descreve quais eram as doutrinas, nem quem eram os causadores desses problemas. Mas pelas características do que escreve João em sua carta, começamos a ver as primeiras sombras do GNOSTICISMO e do UNICISMO.
Segundo os gnósticos, JESUS não teria tido um corpo de verdade, mas apenas um corpo aparente (docetismo); (doceta em grego) quer dizer aparente. Jesus teria então um corpo ilusório que não teria sido crucificado, ensino esse refutado por João – 1 Jo. 1.18-23.
Crêem os unicistas que Deus se manifestou como Pai no Antigo Testamento. Quando Jesus nasceu, manifestou-se como Filho. Após a ascensão de Jesus, Deus se manifestou como Espírito Santo (modalismo).
Jesus é o Pai. Ele não Pré-existiu como filho. Tornou-se filho ao nascer em Belém. Interpretam (João 1.1) como sendo Jesus somente uma idéia ou concepção na mente de Deus, antes de seu nascimento.
João define a vida eterna, em função de CRISTO. Ela só pode ser obtida mediante a fé em JESUS CRISTO e a comunhão com Ele (vv. 2,6,7; 2.22-25; 5.20).
Ele define a vida cristã empregando termos contrastantes e evitando todo e qualquer meio-termo entre luz e trevas, entre verdade e mentira, entre justiça e pecado, entre amor e ódio, entre amar a DEUS e amar ao mundo, entre filhos de DEUS e filhos do diabo, etc.
É importante ressaltar que este é o único escrito do NT que fala de JESUS como nosso “Advogado (gr. parakletos) para com o Pai”, quando o crente fiel peca (2.1,2; cf. Jo 14.16,17,26; 15.26; 16.7,8).
A mensagem de 1 João fundamenta-se quase que inteiramente no ensino apostólico, e não na revelação anterior do AT; não há claramente na carta referências às Escrituras do AT.
Visto tratar da cristologia, e ao mesmo tempo refutar determinada heresia, a carta focaliza a encarnação e o sangue de JESUS, sem mencionar especificamente a sua ressurreição.
Seu estilo é simples e reiterativo, à medida que João apresenta certos termos principais, como “luz”, “verdade”, “crer”, “permanecer”, “conhecer”, “amor”, “justiça”, “testemunho”, “nascido de DEUS” e “vida eterna”.
Existem grandes semelhanças entre e o Evangelho de Jo e 1Jo. O tom da epístola é amigável e paterna, refletindo a autoridade que a idade e o apostolado trazem. O estilo é informal e pessoal, revelando o relacionamento íntimo do apostolo com DEUS e com o povo de DEUS.
O mentiroso e o verdadeiro precisam ser identificados. Essa é a missão de João em sua primeira epístola. O autor ajuda a identificar os personagens do cenário e a situação dos próprios leitores no contexto da verdade e da mentira. O exemplo clássico utilizado é o de Caim e Abel (I Jo.3.11-12), representando dois grupos de pessoas que estavam dentro da igreja. O autor identifica quem está em comunhão com DEUS e quem não está. No quadro a seguir, listamos diversas expressões da epístola através das quais se traça uma linha divisória entre os dois grupos. Vamos chamá-los, alegoricamente, de "grupo de Abel" e "grupo de Caim".

Quadro de Comparação

"Grupo de Abel"
"Grupo de Caim"
Vida (1.1,2; 2.16,25; 3.14,15,16; 5.11,12,13,16,20)
Morte (3.14; 5.16-17)
Verdade – 1.6,8; 2.4,5,8,21,27; 3.18,19; 4.6; 5.7,20. 
Mentira – 1.6,10; 2.4,21,22,27; 4.20; 5.10
Erro – 4.6 Engano - 1.8; 2.26; 3.7
Verdadeiro (2.8,27; 5.20)
Falso ou mentiroso (2.22)
ESPÍRITO da verdade (4.6)
espírito do erro (4.6)
CRISTO (1.3, etc)
Anticristo (2.18,22)
Amor ao irmão (2.10)
Amor ao mundo (2.15)
Sofre ódio do mundo (3.13)
Ódio ao irmão (2.11; 3.15)
Luz - 1.5,7; 2.8,9, 10.
Trevas – 1.5,6; 2.8,9,11. 

É possível passar de um lado para o outro. Esse trânsito pode ser chamado conversão ou, no sentido contrário, apostasia. João disse que "passamos da morte para a vida." (3.14). E o seu cuidado era para que não acontecesse o processo contrário com alguns irmãos que, envolvidos pela heresia, pudessem passar da verdade para a mentira.




Bibliografia

TENNEY, Merril C. O Novo Testamento: Sua Origem e Análise. São Paulo, Shedd Publicações, 2008.
STOTT, John R.W. 1, 2 e 3 João: Introdução e Comentário. São Paulo, Vida Nova, 2011.
CARSON, Donald, MOO, Douglas, MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo, Vida Nova, 1997.
GENEBRA, Bíblia de Estudo. 2ª Edição Revisada e Ampliada. São Paulo, Cultura Cristã, 2009.