Introdução
O objetivo destas epístolas
era escrever aos crentes daquelas igrejas para fortalecer-lhes a fé e
encorajá-los a perseverarem na busca por mais conhecimento de Deus, tendo como
destinatário um grupo específico de cristãos com os quais o autor tinha uma relação
próxima. João escreveu para combater heresias, precocemente gnósticas,
exortando os irmãos a terem cuidado com os falsos mestres e que os cristãos
deveriam ser vigilantes, nem ao menos recebendo esses falsos mestres em suas
casas. João ensina seus “filhos na fé” a verdadeira mensagem sobre Deus e
Jesus, a fé verdadeira e o amor fraternal, o apóstolo os exorta a manterem-se
firmes na verdade e na vivência do amor prático de uns para com os outros.
Autor
e Data
Embora o escritor não tenha
se identificado, temos o testemunho de alguns dos pais da igreja, como Clemente
de Alexandria, Orígenes e Tertuliano que mencionaram João, filho de Zebedeu e
apóstolo de Jesus Cristo como autor destas duas epístolas.
2ª e 3ª João foram escritos pelo mesmo autor sem
sombra de dúvida. Elas usam a mesma linguagem. Na introdução trazem a mesma sentença:
ho presbyteros.
Tal posição acima é contestada de várias maneiras.
Hoje em dia não se defende mais a asserção de que estas epístolas de 2ª e 3ª
João não é mais imitação dos escritos Joaninos, afirma a alta crítica.
Com isso se levantaram objeções muitos profundas
acerca disso, contra a teoria de que 2ª João tenha sido escrita pelo mesmo
autor de 3ª João. Dizia-se que 2ª João é uma epístola fictícia do catolicismo
primitivo e dependente de 3ª João, e que, diversamente de 1ª João, o conceito
de verdade em 2ª João não é dualista, porém indica antes uma doutrina correta
em contraposição a falsas doutrinas, e que, conceitualmente, ela não pode
harmonizar-se com 1ª João e 3ª João.
Contudo, há evidências internas muito fortes a
respeito de que foi o apóstolo João o "discípulo que Jesus amava,"
filho de Zebedeu e irmão de Tiago escreveu o Evangelho e as epístolas joaninas.
Foram provavelmente escritas
em Éfeso. A tradição situa a redação dessas epístolas nos últimos anos da vida
de João, datando-as entre 80 a
95 d.C. a data precisa é desconhecida, porém estudiosos acreditam que João
escreveu as epístolas após ter escrito o evangelho.
A datação das epístolas joaninas é determinada pela
datação do Evangelho de João. Se o Evangelho foi escrito antes, se supõe que as
epístolas são bem antigas também. O Evangelho de João foi escrito provavelmente
em meados dos ano 70 d.C. (justamente por não existir evidências da destruição
de Jerusalém) e mais tarde publicado em Éfeso, quando João residiu por lá.
Apesar de existir autores que alegam que as epístolas foram escritas depois da
perseguição no ano de 96 d.C. após a morte de Domiciano, quando a perseguição
cessa e antes da perseguição de Trajano começar (110-117 d.C.).
Policarpo e possivelmente por Inácio (115) empurram
a data para o primeiro século. A falta de reflexo de perseguição nas epístolas
provavelmente se encaixaria melhor no período anterior a Domiciano. Portanto,
conclui-se que estas epístolas de João foram escritas 70-90 ou derrepente na
década 80-90 seria também bem provável.
Propósito
1ª
Epístola de João
1)
Combater os erros doutrinários e éticos dos
falsos profetas (2ª Pe 2.1-2) (Jd 1.8);
2)
Exortar seus filhos na fé a manter uma vida
santa e em comunhão com Deus, com a verdade e justiça e cheios de alegria por
servirem a Deus (1.4);
3)
Ter a certeza da vida eterna ( 5.13),
mediante a fé e obediência a Jesus (4.15) (5.3) e (5.12);
4)
Pela habitação interior do Espírito Santo (
5.20) ( 4.4 e 13).
A fé e a conduta estão fortemente
entrelaçadas nessa carta, os falsos mestres a quem João chama de anticristo
(2.18-20) apartaram-se do ensino apostólico sobre Cristo e da vida de retidão.
Em 2 Pedro e Judas1, João refuta e condena com veemência esses falsos mestres
com suas crenças e condutas destruidoras.
A carta de 1ª João expõe características da
verdadeira comunhão com Deus e revela cinco evidencias especificas que o crente
poderá ter certeza da vida eterna:
Ø Primeira evidencia: A verdade apostólica a respeito de Cristo;
Ø Segunda
evidencia: uma fé obediente que guarda os mandamentos de Cristo (2.3-11);
Ø Terceira
evidencia: um viver santo afastando-se do pecado para se ter uma comunhão com
Deus (1.6-9), (2.3-6, 15,17 e 29);
Ø Quarta
evidencia: o amor de Deus e aos irmãos na fé (2.9-11) (3.10-11,14 e 16)ç
Ø Quinta
evidencia: o testemunho do espírito Santo no crente ( 2.20-27) 4.13).
Estas evidencias fazem com
que a pessoa possa saber que tem a vida eterna. Está epistola define a vida
Cristã empregando termos contrastantes e evitando todo e qualquer meio termo
entre a Luz e as trevas, entre a verdade e a mentira, entre a justiça e o
pecado, entre o amor e o ódio entre amar a Deus e amar o mundo.
A mensagem de 1ª João,
fundamenta-se quase que inteiramente no
ensino apostólico e não na revelação anterior do Antigo Testamento. A carta
focaliza a encarnação de Jesus na cruz sem mencionar sua ressurreição.
2ª
Epístola de João
João escreve esta carta a
fim de prevenir a “senhora eleita" contra os falsos mestres evangelistas e
profetas que andavam pelas igrejas. Estes haviam abandonado os ensinos do
evangelho e propagavam seus falsos ensinamentos, a destinatária desta carta não
devia recebê-lo e nem dialogar com eles, assim como não auxiliá-los, para não
contribuir na disseminação de seus erros doutrinários.
A figura de linguagem “a
senhora eleita” “aos filhos de sua
Irmã" nos leva a crer que João estava se referindo a igreja local
levando-se em considerações os seguintes
pontos:
Primeiro:
João diz que essa senhora é amada não somente por ele, mas por todos os que
conhecem a verdade. Observa-se que não se refere especificamente a uma pessoa.
Segundo:
Embora a carta inicie o tratamento na 2ª pessoa do singular (teus filhos)v4,
(peço-te) v5, e de repente muda para a 2ª pessoa do plural (ouvistes)v6,
(perdestes)v8.
Terceiro:
Quando João faz um apelo “que nos amemos
uns aos outros” v5, este apelo faz mais sentido quando dirigido a uma
comunidade de crentes do que a uma mulher e aos seus filhos.
Plano
do Livro (Esboço)
“Primeira João em seu plano,
é mais sinfônica do que lógica, pois foi estruturada mais como um trecho
musical do que como um esboço de debate”. Sua estrutura é objeto de debates, em
grande parte porque João trata de vários temas e fica voltando a eles em contextos
ligeiramente diferentes. Em se tratando da segunda epístola, o autor desenvolve
os mesmos temas da primeira, só que bem resumido, pois a segunda e a terceira
epístolas de João são os documentos mais curtos do Novo Testamento.
Primeira
Epístola de João
I.
O
prefácio (1.1-4)
João
testemunhou a respeito da realidade da encarnação de Jesus Cristo, que ele
tinha visto diretamente, na esperança que seus leitores reafirmassem essa
verdade essencial do evangelho.
A. A
preexistência eterna do Verbo da Vida (1.1);
B. A
Manifestação Histórica (1.1,2);
C. A
Proclamação e Anuncio da vida eterna (1.2,3);
D. A
Comunhão e Alegria no Verbo (1.3,4).
II.
A
mensagem Apostólica e Suas Implicações Morais (1.5 - 2.2)
C.H.
Dood acha que o escritor está “aludindo do começo ao fim a certas máximas que
eram empregadas como senhas pelos mestres heréticos”. Quer ele esteja citando
realmente os lemas deles quer não, por certo está apresentando alguns dos seus
ensinamentos perniciosos.
A. A
negação de que o pecado rompe a nossa comunhão com Deus (1.6,7);
B. A
negação de que existe pecado em nossa natureza (1.8,9);
C. A
negação de que o pecado se mostra em nossa conduta (1.10-2.2).
III.
Primeira
Aplicação das Provas (2.3-27)
A. Obediência,
ou a prova moral (2.3-6);
B. Amor,
ou a prova social (2.7-11);
C. Digressão
acerca da igreja (2.12-14);
D. Digressão
acerca do mundo (2.15-17);
E. Fé,
ou a prova doutrinária (2.18-27)
IV.
Segunda
Aplicação das Provas (2.28-4.6)
A. Uma
elaboração da prova moral: Justiça (2.28-3.10);
B. Uma
elaboração da prova social: amor (3.11-18);
C. Digressão
acerca da segurança e do coração que acusa (3.19-24)
D. Uma
elaboração da prova doutrinaria: fé (4.1-6)
V.
Terceira
Aplicação das Provas (4.7-5.5)
A. Mais
uma elaboração da prova social: amor (4.7-12);
B. Combinação
das provas doutrinaria e social (4.13-21);
C. Combinação
das três provas (5.1-5).
VI.
As
três Testemunhas e a Nossa Conseqüente Segurança (5.6-17)
A. As
três testemunhas (5.6-12);
B. A
nossa conseqüente segurança (5.13-17).
VII.
Três
Afirmações e uma Exortação para Concluir (5.18-21).
Segunda Epístola de João
I.
Saudação
e Cumprimento (1-3);
II.
Elogio
(4);
João
elogiou os cristãos pela fidelidade deles.
III.
Exortação
a Amar (5-6);
IV.
Advertência
Contra o Falso Ensino (7-11);
Os
falsos mestres negavam a encarnação de Cristo.
V.
Observação
final e Despedida (12-13).
Características
Podemos observar algumas
características marcantes das epístolas e da própria pessoa do autor, no caso
da epístola em questão, o apóstolo João.
João não pertencia a nenhuma escola rabínica, At.
4.13; Mas isso não queria dizer que ele era “ignorante” quanto às
questões das leis judaicas.
Os artistas o pintaram com a fisionomia muito
singela, com feições até muito afeminadas. Porém ele e seu irmão eram
conhecidos como Boanerges, que quer dizer: “filhos do trovão”, Mc.
3.17; Talvez por possuírem a tonalidade da voz muito grave. Apesar disto,
em algumas circunstancias, usaram de Intolerância e Rispidez, Mc. 9.38 ; Lc.
9.54.
Passou a ultima parte de sua vida na região da Ásia
Menor, em particular na cidade de Éfeso. JOÃO é conhecido como “O
APÓSTOLO DO AMOR”, apesar de ser intolerante com Heresias.
O estilo literário de que João usa para
escrever a sua epístola, é repetitivo, dada a tamanha preocupação do escritor
quanto a nova onda que tenta invadir a igreja de Éfeso. O que João escreve em 1.
Jo. 1.5–2.29, ele repete segunda vez em 3.1–4.6, e uma terceira vez
em 4.7-5.12.
João não descreve quais eram as
doutrinas, nem quem eram os causadores desses problemas. Mas pelas
características do que escreve João em sua carta, começamos a ver as primeiras
sombras do GNOSTICISMO e do UNICISMO.
Segundo os gnósticos, JESUS não teria tido um corpo de verdade, mas apenas um
corpo aparente (docetismo); (doceta em grego) quer dizer aparente. Jesus
teria então um corpo ilusório que não teria sido crucificado, ensino esse
refutado por João – 1 Jo. 1.18-23.
Crêem os unicistas que Deus se manifestou como Pai no Antigo Testamento.
Quando Jesus nasceu, manifestou-se como Filho. Após a ascensão de Jesus, Deus
se manifestou como Espírito Santo (modalismo).
Jesus é o Pai. Ele não Pré-existiu como
filho. Tornou-se filho ao nascer em Belém. Interpretam (João 1.1) como
sendo Jesus somente uma idéia ou concepção na mente de Deus, antes de seu
nascimento.
João
define a vida eterna, em função de CRISTO. Ela só pode ser obtida mediante a fé
em JESUS CRISTO e a comunhão com Ele (vv. 2,6,7; 2.22-25; 5.20).
Ele
define a vida cristã empregando termos contrastantes e evitando todo e qualquer
meio-termo entre luz e trevas, entre verdade e mentira, entre justiça e pecado,
entre amor e ódio, entre amar a DEUS e amar ao mundo, entre filhos de DEUS e
filhos do diabo, etc.
É
importante ressaltar que este é o único escrito do NT que fala de JESUS como
nosso “Advogado (gr. parakletos) para com o Pai”, quando o crente fiel peca
(2.1,2; cf. Jo 14.16,17,26; 15.26; 16.7,8).
A
mensagem de 1 João fundamenta-se quase que inteiramente no ensino apostólico, e
não na revelação anterior do AT; não há claramente na carta referências às
Escrituras do AT.
Visto
tratar da cristologia, e ao mesmo tempo refutar determinada heresia, a carta
focaliza a encarnação e o sangue de JESUS, sem mencionar especificamente a sua
ressurreição.
Seu
estilo é simples e reiterativo, à medida que João apresenta certos termos
principais, como “luz”, “verdade”, “crer”, “permanecer”, “conhecer”, “amor”,
“justiça”, “testemunho”, “nascido de DEUS” e “vida eterna”.
Existem grandes
semelhanças entre e o Evangelho de Jo e 1Jo. O tom da epístola é amigável e
paterna, refletindo a autoridade que a idade e o apostolado trazem. O estilo é
informal e pessoal, revelando o relacionamento íntimo do apostolo com DEUS e
com o povo de DEUS.
O mentiroso e o
verdadeiro precisam ser identificados. Essa é a missão de João em sua primeira
epístola. O autor ajuda a identificar os personagens do cenário e a situação
dos próprios leitores no contexto da verdade e da mentira. O exemplo clássico
utilizado é o de Caim e Abel (I Jo.3.11-12), representando dois grupos de
pessoas que estavam dentro da igreja. O autor identifica quem está em comunhão
com DEUS e quem não está. No quadro a seguir, listamos diversas expressões da
epístola através das quais se traça uma linha divisória entre os dois grupos.
Vamos chamá-los, alegoricamente, de "grupo de Abel" e "grupo de
Caim".
Quadro de Comparação
"Grupo de Abel"
|
"Grupo de Caim"
|
Vida (1.1,2; 2.16,25;
3.14,15,16; 5.11,12,13,16,20)
|
Morte (3.14; 5.16-17)
|
Verdade – 1.6,8;
2.4,5,8,21,27; 3.18,19; 4.6; 5.7,20.
|
Mentira – 1.6,10;
2.4,21,22,27; 4.20; 5.10
Erro – 4.6 Engano -
1.8; 2.26; 3.7
|
Verdadeiro (2.8,27;
5.20)
|
Falso ou mentiroso
(2.22)
|
ESPÍRITO da verdade
(4.6)
|
espírito do erro (4.6)
|
CRISTO (1.3, etc)
|
Anticristo (2.18,22)
|
Amor ao irmão (2.10)
|
Amor ao mundo (2.15)
|
Sofre ódio do mundo
(3.13)
|
Ódio ao irmão (2.11;
3.15)
|
Luz - 1.5,7; 2.8,9,
10.
|
Trevas – 1.5,6;
2.8,9,11.
|
É possível passar de um
lado para o outro. Esse trânsito pode ser chamado conversão ou, no sentido
contrário, apostasia. João disse que "passamos da morte para a vida."
(3.14). E o seu cuidado era para que não acontecesse o processo contrário com
alguns irmãos que, envolvidos pela heresia, pudessem passar da verdade para a
mentira.
Bibliografia
TENNEY, Merril C. O Novo
Testamento: Sua Origem e Análise. São Paulo, Shedd Publicações, 2008.
STOTT, John R.W. 1, 2 e 3
João: Introdução e Comentário. São Paulo, Vida Nova, 2011.
CARSON, Donald, MOO,
Douglas, MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo, Vida Nova,
1997.
GENEBRA, Bíblia de Estudo.
2ª Edição Revisada e Ampliada. São Paulo, Cultura Cristã, 2009.
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