quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Chamados para Servir



A nossa cultura está cheia de desejo em ser servido e não de servir. Encontramos muitas pessoas que adoram ser servidas, mas não levantam um fio de cabelo para servir aos outros. Na visão de muitas pessoas aquele que serve é alguém que está numa classe econômica menor, que não tem prestígio ou status diante da sociedade. Na realidade aqueles que querem ser servidos se acham maiores do que aqueles que os servem e por isso os menores devem servir os maiores.
Mas o que nos deixa mais impressionados é que esse pensamento não está somente na visão secular, mas também na mente de muitas pessoas que estão dentro das igrejas. Mas no Reino de Deus não é assim! É totalmente ao contrário e não podemos aceitar na igreja pessoas que não querem servir ao seu próximo, porque o nosso chamado foi para servirmos a Deus e ao próximo e não para sermos servidos. No mundo pode ser assim, mas na igreja não importa sua classe social, suas posses, seu status... Todos são iguais e no mesmo patamar, nenhum é maior que o outro.
Mas para começo de conversa vamos ver o que significa servir ou ser servo?
Existem duas palavras no Novo Testamento grego (língua original em que foi escrito) que se referem a ser servo e servir: “doulos” e diakonos”. Doulos: Literalmente significa escravo. Como no caso de Lucas 7: 2 (E o servo do centurião...). Essa palavra era a mesma usada para os escravos do Centurião. Mas os apóstolos a usaram também como escravo de Deus com ênfase na sua reivindicação exclusiva: Romanos 1: 1 (Paulo, escravo ou servo de Jesus Cristo...).  Diakonos: Literalmente servo ou empregado. Em Mateus. 20: 26 diz que “Aquele que quiser ser o maior será vosso serviçal”. e em João 2: 5 “Maria disse aos empregados...”.
Existe alguma diferença entre diakonos e doulos?
Doulos se refere a nossa posição diante do Senhor, ou seja, como deveríamos nos considerar diante do nosso Senhor. Enquanto que Diakonos se refere a nossa ação diante do Senhor, diz respeito ao seu serviço em prol da Igreja, dos seus irmãos e do seu próximo, em prol da comunhão, quer o serviço se realize ao servir à mesa, com a palavra, ou de alguma outra maneira.
Então quer dizer que fomos chamados para ser servos ou escravos?
Entregar nossa vida a Cristo é nos tornarmos escravos Dele: Somos possessão absoluta de Cristo. Jesus nos amou e nos comprou mediante um alto preço (1 Co. 6.20). Por isso, não podemos pertencer a mais ninguém além de Jesus Cristo. Nós devemos sentir prazer em fazer a Sua vontade: Devemos à Cristo obediência absoluta. Não temos vontade própria; Nossa vontade é cativa à vontade do nosso senhor. As decisões do seu senhor são as que regem a nossa vida. Paulo não tem outra vontade senão a de Cristo. Seu projeto de vida é obedecer a Ele. Ser servo de Cristo é a maior honra. Esse é o mais elevado dos títulos.
A escravidão cristã não é uma sujeição humilhante e degradante; pelo contrário, como disse Agostinho, quanto mais servos de Cristo somos, mais livres nos tornamos. Ser escravo de Cristo é ser rei. Ser escravo de Cristo é o caminho para a liberdade perfeita. Porque somos escravos de Cristo, somos livres da penalidade, da escravidão do pecado e do diabo e merecedores da condenação eterna.
Se formos escravos a quem devemos servir?
Devemos servir a Deus, nosso Pai, Senhor, Amigo, Conselheiro, Deus Forte e príncipe da Paz. Devemos Servir a igreja de Cristo, Paulo foi exemplar nisso e por causa disso passou por momentos angustiantes em sua vida, mas vale a pena (II Cor. 11. 24 – 28), devemos servir ao nosso próximo, aquele que é semelhante a nós, criado pelo mesmo Senhor (João 13. 4 – 17).
Por fim quais atitudes a bíblia nos fornece que identificam um servo?
Um servo não busca glória para si mesmo; Um servo não se considera maior que os outros; Um servo não busca somente seus próprios interesses; Um servo é humilde (Filipenses 2. 6 – 8).

Que Deus faça de nós servos verdadeiros e sinceros. Vamos lançar para longe o desejo de ser servido e trabalharmos para o nosso Senhor com coragem e fé naquele que está conosco todos os dias. Se nem mesmo o Filho do homem, Jesus, veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos, quem somos nós para não seguirmos o exemplo do nosso Mestre?

Soli Deo Gloria.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O Trabalho do Pescador de Homens


Lendo o livro de João nesses dias tive minha atenção voltada para os versículos 35 ao 50 do capítulo primeiro do evangelho de João. Como coordenador de missões e evangelismo da JUBACE (Juventude Batista Cearense), fico devendo a essa Juventude o compartilhar da palavra de Deus para nos alimentarmos e continuarmos focados no nosso papel como cristãos: anunciar o  nosso Salvador Jesus Cristo!

Então Juventude Batista Cearense, lá vai uma porção da Palavra de Deus que nos confronta e nos incomoda acerca do nosso trabalho de Pescados de homens.

João 1: 35 - 40
Logo no versículo 35, vemos a “voz do que clama no deserto”, João Batista, juntamente com dois dos seus discípulos. Quando João avista Jesus, ele logo abre sua boca e proclama com entusiasmo que Jesus é o Cordeiro de Deus! Os seus discípulos ouvindo aquilo, logo vão ao encontro Dele, eles conhecem Sua casa e ficam com Ele todo aquele dia, com certeza ouvindo e aprendendo com o Mestre! Isso foi o suficiente para que aqueles dois homens se convencessem que Jesus era o Messias. E isso foi o suficiente para que aqueles dois homens se tornassem pescadores de homens!

1ª Aplicação: Para sermos pescadores de homens precisamos buscar a Jesus, ouvir as Suas Palavras e passarmos tempo com Ele! Não adianta falarmos de alguém que não conhecemos! Tentar fazer os outros buscar alguém que não buscamos é tolice! E se não passarmos tempo com o Senhor nossa vida não terá o brilho de Cristo e seremos apagados e sem vida para falarmos Dele!

João 1: 41 - 42
Após isso, logo um dos discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, PROCUROU SEU IRMÂO para anunciar que haviam encontrado o Cristo. André não somente anunciou a Pedro, como também, nos diz as escrituras, o LEVOU até Ele!

2ª Aplicação: Muitas vezes queremos anunciar o Cordeiro de Deus para pessoas que estão longe de nós, enquanto as que estão perto desprezamos! Nossa família é necessitada de ouvir sobre Cristo, nossos amigos, colegas de trabalho e quem mais estiver ao nosso redor! Além de anunciá-los Jesus podemos também levá-los até Ele, ajudando-os a compreenderem as escrituras, orando junto com eles e discipulando-os!

João 1: 35 - 40
No outro dia, Jesus foi para Galiléia e encontrou a Filipe e logo Ele o seguiu. O caso mais interessante dessas passagens eu vejo aqui! Filipe após conhecer o Senhor anuncia para Natanael e Natanael já está carregado de preconceitos sobre o Messias anunciado por Filipe e o rejeita. Natanael também parece está com certa descrença sobre o que Filipe fala. Ele replica: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” O que me deixa mais maravilhado é a resposta de Filipe: “Vem e vê”.

3ª Aplicação: Muitas vezes, queremos ser aceito pelas pessoas quando anunciamos a mensagem do Messias, mas Ele próprio já disse que por causa da Sua mensagem seríamos perseguidos, injuriados e mal tratados. Por isso não devemos ser mais ou menos felizes dependendo de como as pessoas irão nos tratar por causa do evangelho. Servimos a Deus e não aos homens! Nem devemos ficar envergonhados por sermos rejeitados, o apóstolo Paulo já disse que não devemos nos envergonhar do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crer! E que vale a pena se sacrificar por esta causa, pois a recompensa é eterna!
4ª Aplicação: Diferente de nós, Filipe deixa Natanael bem à vontade. Ele não o força, nem o coage, apenas coloca toda a responsabilidade nas mãos do Mestre. Nós não salvamos ninguém! Nós não somos o Espírito de Deus para convertermos as pessoas, nem temos essa obrigação! Nossa tarefa é anunciar, falar, proclamar, dizer que Jesus é o Salvador!

João 1: 47 – 50
Quando Natanael aproximou-se e o Senhor o viu, logo lhe dirigiu a palavra, mostrando para ele que o Senhor o conhecia muito bem. Natanael replica perguntando-lhe de onde Ele o conhecia e o Mestre revela algo que para Natanael foi o suficiente para ele crer que Jesus de Nazaré era o Messias!

5ª Aplicação: Não existe nos céus, na terra e nem debaixo da terra coração duro demais que Deus não possa destronar! Natanael é um exemplo disso. Ele rejeita as palavras de Filipe, mas a palavra de Jesus Ele não resiste!

Conclusão: Por isso meu querido jovem, não fique desanimado, não desista de pregar, pois Deus é quem está no controle de tudo. Pregue a palavra a tempo e fora de tempo e deixe Deus fazer! Ele é quem dá o crescimento! Não há ninguém que resista a graça maravilhosa de Deus! Todo aquele que Deus quiser salvar, Ele salva! Ele é Senhor Soberano! Por isso toda honra, toda glória, todo poder, louvores, adoração, majestade, ações de graças sejam dadas somente a Ele, Jesus, o único digno!

Soli Deo Glória!

Jhonathan Alves - Coordenador de Missões e Evangelismo - JUBACE


quarta-feira, 18 de julho de 2012

George Whitefield


“Conhecer a história de homens que foram usados por Deus para impactar sua geração é algo que todo cristão deve fazer. Ao conhecer um pouco mais de suas vidas, somos confrontados a viver da mesma forma que esses homens e nos entregarmos a Deus para sua obra. Espero que você seja inflamado com a chama que um dia inflamou o coração desse pregador chamado George Witefield”. (Jhonathan Alves)

Aí está por que, digo eu, é certo celebrarmos a memória deste homem. Este homem foi simples­mente um fenômeno. Não houve homem nenhum que fosse mais bem conhecido em Londres há duzentos anos, do que este homem, George Whitefield. Quais são os fatos a respeito dele? Deixem-me dar um breve sumário, a fim de tentar propiciar uma conceituação do fenômeno conheci­do como George Whitefield. Como já lhes fiz lembrar, ele nasceu em Gloucester, na Estalagem do Sino ("The Bell Inn"), em 16 de dezembro de 1714. Muitos dos seus antepassados tinham sido clérigos da Igreja da Inglaterra, porém o seu pai não. Seu pai era o zelador da Estalagem do Sino, em Gloucester, e ali ele passou a sua meninice. Seu pai morreu quando ele era muito jovem, e Whitefield nos conta em seu diário que ele caiu em muitos pecados, na maioria daqueles pecados nos quais a juventude tende a cair. Mas nunca foi feliz, sempre teve uma consciência sensível. Abandonou a esco­la por um tempo, porém depois começou a achar que estava errado. Durante o tempo em que deixou a escola, só esteve ocupado em servir bebida, segundo o costume daquele bar de Gloucester. Todavia a sua consciência ainda o perturbava, e ele voltou para a escola, e finalmente pôde conseguir ingresso numa faculdade, em Oxford. Ali, como digo, recebeu a influência daquele Clube Santo que tinha sido formado por Charles Wesley e alguns outros, e que mais tarde recebeu a adesão de João Wesley. Tendo concluído o seu curso em Oxford, foi ordenado pelo bispo Benson, bispo de Gloucester naquele tempo, em 20 de junho de 1736, na idade de vinte e um anos. Pois bem, o bispo Benson tinha feito uma regra segundo a qual não ordenaria ninguém com menos de vinte e três anos de idade, mas tendo ouvido o que ouvira sobre esse moço extraordinário, e tendo se encontrado pessoalmen­te com ele, resolveu quebrar a sua própria regra, pelo que o ordenou embora ele tivesse apenas vinte e um anos.
Em 27 de junho, uma semana depois da sua ordenação, ele pregou pela primeira vez em Gloucester, na Igreja de Sta. Maria, a Cripta, onde havia sido batizado na infância e tinha participado pela primeira vez da Ceia do Senhor. Naturalmen­te, este evento causou muito interesse, e talvez algum entusiasmo. Sua mãe era muito conhecida como zeladora da Estalagem do Sino, e todos os parentes e amigos, e outros, vieram ao culto; o resultado foi que a igreja ficou repleta. Ora, este é o ponto interessante: logo neste primeiro sermão ele mostrou que era um homem à parte, que havia algo incomum acerca dele. O efeito sobre os ouvintes foi tremendo. Foi dito mais tarde, e até foi levado ao conhecimento do bispo, que quinze pes­soas tinham ficado loucas por causa daquele ser­mão. O bispo Benson era um homem sábio, e correu a informação de que o seu comentário foi: "Tudo que desejei e esperei foi que a loucura não fosse esquecida antes do domingo próximo seguin­te". Todavia, ele era um homem sábio, e compreen­deu que ali estava um pregador deveras incomum. Já o primeiro sermão de Whitefield o marcou como um pregador inteiramente excepcional, na idade de, lembrem-se, vinte e um anos.
Não devo cansá-los com mais detalhes. Ele veio a Londres pela primeira vez em agosto do mesmo ano de 1736. Seu primeiro sermão em Londres foi pregado em Bishopgate. O posto que veio a ocupar consistia em atuar como substituto do capelão da Torre de Londres, porém lhe foram dadas oportu­nidades de pregar noutros lugares e, de novo, no momento em que começava a pregar ele atraía a atenção, e atraía multidões. O povo jamais ouvira pregação como a dele. Em vez de ler um prosaico tipo de ensaio, que se supunha servir como um sermão, ele era um homem que pregava com todo o seu ser, com autoridade, poder e convicção - e, imediatamente, toda vez que pregava, as igrejas ficavam cheias, atulhadas.
Depois de passar cerca de dois meses aqui em Londres, ele foi substituir um amigo numa paró­quia de Hampshire. Deu-se ali exatamente o mes­mo. Como resultado disso, foram-lhe oferecidas muitas paróquias e se lhe apresentaram muitas possibilidades e perspectivas de êxito e de progres­so na Igreja da Inglaterra. Mas, sob a influência dos seus amigos João e Charles Wesley, que estavam na Geórgia, EUA, procurando fazer alguma obra missionária, sentiu-se chamado para ir à Geórgia e, assim, decidiu definitivamente que era o que devia fazer. Não havia navio disponível imediatamente, e havia vários arranjos para fazer, de modo que ele pôde voltar a Gloucester para despedir-se de sua mãe, dos amigos e dos parentes. Ele pregou lá, e mais uma vez foi notável. Em certo sentido, ficou provado que esse foi um ponto decisivo da sua vida e carreira. Ele tinha alguns parentes em Bristol, cidade vizinha de Gloucester, e queria despedir-se deles antes de partir para a Geórgia. Por isso foi para lá. Toda vez que ele ficava sabendo que haveria algum tipo de preleção ou prédica nalguma igreja num dia de semana, sempre comparecia. Assim, em Bristol ele foi a uma certa igreja e ali estava sentado com a congregação, quando o ho­mem que deveria pregar reconheceu-o, foi até ele e lhe pediu que pregasse em seu lugar. Diz Whitefield: "Sucedeu que eu tinha as anotações de um sermão no bolso, de modo que concordei em pregar". E o fez. Esse foi, num sentido, o começo do real fenô­meno de George Whitefield. A congregação ficou toda eletrizada. Ele pregou noutras igrejas, e estas transbordantes também ficaram transbordante de gente. O povo vinha de toda parte, e nas igrejas ocupava todos os cantos - junto aos candelabros, no sótão, na galeria, em qualquer ponto, para estar no edifício e ouvi-lo. Pois bem, isso é assombroso. Ele pregou em Bristol pela primeira vez em janeiro de 1737. Houve atrasos, e ele ainda não pôde ir para a Geórgia, e assim pôde fazer mais uma visita a Bristol, em maio de 1737, chegando ali no dia 23. Eis aqui uma coisa que ajudará vocês a perceberem que fenômeno era este homem. Lembrem-se, ele era apenas um jovem de vinte e dois anos de idade, mas é isto o que ele diz sobre a sua segunda visita a Bristol: "Multidões vinham a pé ao meu encontro, e muitos vinham em carruagens a uma milha de distância, e quase todos me saudavam e me abenço­avam quando eu andava pela rua". Vocês podem imaginar isso? Um jovem de vinte e dois anos! Gente caminhando uma milha, viajando em carru­agens para encontrar-se com ele. Era uma espécie de "desfile real", e tudo resultante da sua admirável e espantosa pregação. E continuou assim - de volta a Gloucester, em seguida a Oxford e depois a Londres. Consta que entre agosto e o Natal de 1737 ele pregou cem vezes, e cada vez a auditórios repletos. Ele se tomou um dos homens mais famo­sos de toda a cidade de Londres, e de todo o país. Havia naquele tempo uma revista muito popular chamada Revista do Cavalheiro ("The Gentleman's Magazine"), e para alguém ter o nome nela era um feito e tanto. Pois bem, em novembro de 1737 houve um poema sobre George Whitefield na Re­vista do Cavalheiro, e ele ainda tinha somente vinte e dois anos de idade. Nove sermões dele foram publicados em 1737, e todos tiveram realmente grande venda.
Então, afinal, ele pôde ir para a América, e lá passou a maior parte de 1738. Agora, lembrem-se, este ano de 1738 é o ano em que os dois irmãos Wesley foram convertidos, durante o mês de maio. Todavia Whitefield voltou à Inglaterra no fim de 1738, por vários motivos. Ora, isto nos leva ao grande ano de 1739. Voltando aos seus velhos recantos - Gloucester, Bristol, etc. - começou a ouvir sobre a terrível condição dos mineiros que viviam naquela vila de Kingswood, situada nos limites de Bristol. Eles levavam vida muito depra­vada. Whitefield preocupou-se com eles. Aqueles homens nunca tinham chegado perto de um lugar de culto, pelo que ele achou que devia ir a eles, e foi um dia e pregou a apenas uns cem deles. Mas, de novo, o efeito foi tão tremendo que daí em diante ele começou a pregar a pelo menos cinco mil deles por vez. Estes homens saíam da mina, não tinham tempo de lavar-se; ficavam de pé, ouvindo; e ali ele lhes pregava. Conta-se que logo ele estava pregan­do a vinte mil pessoas, todas a ouvi-lo de pé, ao ar livre. E depois disso, como eu disse a vocês, ele influenciou os irmãos Wesley a fazerem a mesma coisa.
Entretanto, quando Whitefield voltou da Amé­rica, viu que se operara uma grande mudança aqui em Londres, na atitude dos clérigos e dos pastores para com ele. Quando partira, estava na crista da onda da popularidade, mas quando voltou viu que muitas portas estavam fechadas para ele. Por quê?
Bem, houve muitas razões para isso. Alguns dos seus convertidos haviam sido um tanto impruden­tes, tinham agido de um modo impróprio do evan­gelho, e tinham tornado hostis os seus próprios clérigos e pastores. Além disso, alguns membros do clero realmente nunca tinham gostado da sua pregação sobre a necessidade absoluta do novo nascimento. Acima de tudo, partes do Diário que ele tinha começado a produzir tinham sido publicadas, e eles achavam que isso era exibicionismo, e que ele estava dizendo coisas que não devia dizer. Estas coisas, sem dúvida, além de muita inveja, fizeram que muitas igrejas se fechas­sem para ele. Assim, ele foi impelido mais ainda ao ar livre. Negaram-lhe permissão para pregar na Igreja de Santa Maria, em Islington; justo quando ele estava para entrar no púlpito, foi detido. Aí ele resolveu então encerrar tranqüilamente aquele cul­to. Depois levou o povo para fora e lhe pregou no pátio da igreja. Tudo isso agravou a situação e os ataques que lhe moviam se tornaram realmente incríveis. Foram feitos ataques ao seu caráter mo­ral, ofendendo até a sua aparência pessoal. Whitefield tinham a infelicidade de ter um olho vesgo, e assim era conhecido pelo povo, pela mul­tidão popular de Londres, como o "Doutor Olho Torto" ("Doctor Squintum"). Isso, porém, não fa­zia a menor diferença. O ponto era que ele era este bem conhecido pregador, e foi como a sua vida continuou. Ele iria pregar em Moorfields Common, iria pregar em Marylebone Fields - logo ao norte da atual Rua Marylebone. Iria pregar no que então se chamava Feira de Maio, "May Fair", que agora chamamos "Mayfair". Ele costumava pregar em Kennington Common. Costumava pregar em Blackheath. De fato, em qualquer lugar onde hou­vesse um grande espaço aberto, Whitefield só tinha que se levantar e pregar, e milhares se reuniam para ouvi-lo. A média de seus ouvintes estava nalgum ponto próximo dos vinte mil por vez e, lembrem-se, todos eles tinham que ficar de pé. Não obstante, eles o faziam com a maior boa vontade.
Ele simplesmente continuou fazendo isso pelo resto da sua vida. Fez isso em toda a Inglaterra, fez isso em Gales, como já lhes falei, fez isso na Escócia, fez isso na América. Assim, este fenôme­no continuou. Quando se ouvia que ele estava nas imediações e logo ia pregar, lojistas fechavam imediatamente as suas lojas, pois tinham que ouvi--lo; homens de negócio esqueciam os seus negóci­os, lavradores largavam os seus instrumentos de trabalho. Ele podia conseguir um auditório de mi­lhares a qualquer hora do dia ou da noite; ele podia consegui-los e mantê-los na neve, na geada, no gelo e na chuva - não importava quais eram as condi­ções. Na América, num inverno muito frio, eles costumavam ficar de pé aos milhares ouvindo este homem pregar o evangelho, e os ouvintes percorri­am distâncias intermináveis para terem esta grande oportunidade e privilégio.
Posso resumir o restante da sua vida dizendo-lhes apenas isto - desde aquele início ao ar livre daquela maneira em 1739, ele simplesmente conti­nuou fazendo isso em todos estes países até que, por fim, às primeiras horas da manhã do dia 30 de setembro de 1770, expirou seu último alento e partiu para estar com aquele Senhor que anelara ver desde os seus primeiros dias como jovem pregador. Seu fim é muito característico da sua personalida­de. Ele não estava bem de saúde. O admirável é que ele viveu o tempo que viveu. Pois este homem costumava pregar cinco ou seis vezes por dia. Isso era coisa comum para ele, e assim ele punha o seu corpo sob uma tensão tremenda. Lá estava ele; tinha prometido pregar num lugar chamado Newbury Port, na Nova Inglaterra, domingo, 30 de setembro de 1770, e estava viajando naquela dire­ção. Ele teve que passar por um lugar chamado Exeter, e quando ouviram que ele estava lá, vieram todos em multidão. Ele tinha que pregar-lhes, e afinal o persuadiram a fazê-lo. A princípio ele mal podia falar. Estava em condição física tão fraca, que não conseguia articular as palavras. Ele come­çou devagar, e aos poucos começou a reviver. Acabou pregando para eles por duas horas. Esse era George Whitefield. Ele se encheu de poder e de forças, e os ouvintes, como de costume, ficaram profundamente impressionados. Depois chegaram ao lugar onde devia ficar aquele sábado à noite, em Newbury Port e, por fim, disse que ia dormir. Deram-lhe um castiçal com uma vela, mas o lugar estava cheio de gente. Para onde fosse, as pessoas se aglomeravam em torno dele, fazendo perguntas, querendo ter uma palavra dele. Este último quadro dele é maravilhoso, idílico. Ele tentou afastar-se delas, e começou a subir a escada, com a vela acesa na mão. Depois se voltou e lhes falou de novo, fazendo-lhes outra exortação. Continuou com a prática até que a vela se queimou da ponta ao bocal, e ele só ficou com o castiçal na mão. Finalmente ele foi para o quarto e para a cama. Teve um forte ataque do que hoje denominamos asma cardíaca, e morreu. Simplesmente foi, como digo, estar com o Senhor a quem ele tanto amava. Quando vocês lerem os seus maravilhosos diários, prestem aten­ção no modo como ele ansiava estar com o Senhor. Não era um simples falar; era isso que ele queria dizer; ele foi repreendido algumas vezes por dizer isso, porém era o seu maior desejo, e afinal isso lhe foi concedido. Bem, aí está o fenômeno abarcado pelo nome de George Whitefield, e aí está por que é bom lembrar-nos disso tudo.
Ali estava um homem capaz de pregar daquela maneira a todas as classes. Havia muitos que o seguiam, dentre os membros da aristocracia daqui de Londres. A condessa de Huntington achava que não havia nenhum homem como ele, como prega­dor, e costumava abrir as salas da sua grande casa e convidar todos os principais elementos da aristo­cracia da época para ouvi-lo; e eles se deliciavam ouvindo Whitefield. Ele era o maior desses prega­dores que pregavam para a aristocracia, todavia como lhes fiz lembrar, ele era também o maior pregador para os mineiros, o maior pregador para as multidões de Moorfields, Kennington Common e de onde mais acontecia ele estar. Ele podia pregar igualmente bem às crianças do orfanato. Que ho­mem estupendo e admirável ele era!
Ele também era supremo na questão de coletar dinheiro. Ele fundou um orfanato na Geórgia, e o custo para mantê-lo era muito grande. Assim, ele se acostumou a pregar um sermão e, depois, levantar uma coleta. Costumava conseguir enormes coletas de dinheiro, e com esse dinheiro também costuma-
va ajudar quem quer que estivesse em necessidade, qualquer pessoa pobre, todo aquele que estivesse em dificuldade. Toda a Inglaterra falava dele. Sem­pre se sabia quando ele estava em Londres, e ele atraía gente de todas as classes ou de todas as camadas da sociedade.

Por Martyn Lloyd-Jones (Livro João Calvino e George Whitefield)